domingo, 19 de agosto de 2012

Princesa

Vamos sentir a tua falta. Chegaste e partiste em silêncio. Vieste sem que o tivéssemos planeado e foste porque assim teve de ser. Fica o vazio do teu corpo a ocupar o espaço que escolheste usar para curar as feridas de um passado rude. E esse lugar, meu amor, será sempre teu. Não ocupaste mais do que o espaço que julgavas ser merecedora porque lá atrás, um dia, alguém  deve ter dito que não te conseguia dar mais do que o medo de cuidar e amar. Por isso, acredito, ocupaste um espaço físico tão pequeno nesta casa (porque insistias em ficar apenas pela cozinha?). Tiveram medo de te amar porque esse alguém não foi amado o suficiente para entender que o amor (quando é mesmo amor) não olha a cores, tamanhos, raças. Carregas esse karma contigo minha pequenina, mas o futuro desenha-se à tua frente com balões e arco-íris. Fomos apenas um ponto de partida para um novo sorriso na tua vida e, tenho a certeza, nunca mais vais voltar a sentir a dor do abandono. Dou-te a minha palavra.

Costumamos dizer que tiveste sorte, a tua vida podia ter acabado no momento que antecedeu o olhar de alguém (ser luminoso, obrigado!) que te tirou do jardim onde foste deixada. Sim, Deus olhou por ti, mas os sortudos também somos nós. Somos (cada um à sua maneira) pequenos alunos da mestria que carregas na coragem de aguentares tormentos e ainda assim continuares a acreditar em nós (humanos) e vives esta crença na prática, com lambidelas sem fim, com um olhar que procura a luz em vez da escuridão.  Sinto-me a pessoa mais abençoada do mundo por me teres dado a oportunidade de experiênciar o amor incondicional sob a forma de desapego. Tens uma família neste momento que espera por ti, que te disse sim sem saber quem és, que te ama ainda antes de te conhecer. Olha só a forma quentinha que a Vida encontrou para te pedir desculpa pelo sofrimento do antes. Depois. Bem, depois virá o que Deus quiser. Mas uma coisa é certa: estamos aqui para o que der e vier e a porta da nossa casa está sempre aberta para ti. Vamos acompanhar o teu crescimento que não promete muitos centímetros! A veterinária disse que és arraçada de pincher com outra raça que agora não me lembro, mas que tens ar de ser bem tranquila e fugir ao estereótipo de cão peluche estridente. Confesso, gostava de ter ouvido a tua voz mais vezes, mas sei que ainda procuras uma forma de te expressares sem sentires estar a ocupar demasiado espaço. Ladra, mas ladra bem alto para que percebamos que és tão merecedora de amor quanto quem fala, mesmo que fale muito alto. 

Vou usar bons argumentos com o K. e a V. para te raptar alguns fins-de-semana (tudo dentro da legalidade!) e brincares com o gatinho Guedes que foi com a tua cara desde que te viu pela primeira vez. E tu também gostas dele que os pulinhos que usas para o desafiar para a paródia não enganam ninguém. Mas deixa-me que te diga que amor entre cadelinha e gato é coisa que pode mudar o Mundo!

Obrigado a todos quantos participaram no teu processo de renascimento, são seres muito especiais. Vamos sentir a tua falta (e das amostras de farturas mal cheirosas que libertavas desse intestino xxs!). Vais daqui como “Princesa”, “Canela”, “Amor”, “Pequenina”, “Coisa boa”, “Doce”, mas o teu nome será (quase de certeza) o nome de uma deusa. E sente-te merecedora, ocupa o espaço de uma casa e não apenas a cozinha. Porque tu mereces mais. Muito mais. Até breve “Princesa”**

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