segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Assim foi




Quando já não souber respirar, vou lembrar-me do dia em que consegui ser o vento que passa, o barulho da água que corre da torneira, as silabas que te consegui contar. Esse dia não vou esquecer. Marcou-me porque vivi o que falam os grandes mestres orientais. Das palavras deles fiz a minha vivência. Se foi possível uma vez, será possível outra e outra e outra. Assim queira a minha capacidade de persistir.



Foto by Carlos Gila

domingo, 29 de agosto de 2010

Fui naquele dia


O dia amanheceu chuvoso. Esta era a chuva que ele esperava ser capaz de apagar os passos deixados pela movimentação repentina da noite passada. " Assim ninguém vai poder acusar-me do que quer que seja".

Os dias vão longos, assim como é comprida a nossa vontade de mudar e depois a vontade transforma-se em apatia e desalento. Ele sabia o tamanho exacto da sua preguiça. E ela sabia exactamente que a vida lhe pedia que soubesse esperar. Ela sabia que havia chegado a hora de ser crescida. Mas o tamanho dele não era o tamanho dela, e nesta diferença vivia o sonho de serem perfeitos um para o outro." É contigo que quero despedir-me deste mundo", diziam ambos como se soubessem que depois deste mundo há outro, outros, vários mundos.

Lembro-me de uma vez os ter ouvido dizer que na imperfeição de serem quem são estava o epicentro da felicidade. Na altura, entre um copo de vinho tinto e outro, julguei-os certos. Agora parece-me que este mundo criou mais dois loucos. Dois seres que se projectam com demasiada facilidade um no outro. Ainda na semana passada os convidei para jantarem comigo. Aceitaram o convite com muito agrado, e demasiada honra, mas depois o jantar revelou-os na sua densidade. E eu estava lá como que numa promessa de testemunha. O observador que não quer avançar nas palavras.

Eu também tenho sonhos, mas prefiro vive-los de pé no chão, encostadinho à realidade das 24 horas. Se depois o dia se revelar mais longo lá estarei de sorriso aberto e relógio no bolso. Por enquanto quero apenas viver sem memória, só para não ter de recordar o tempo do que aconteceu entre eles.

Conheci-os numa solarenga manhã de verão. Num daquelas dias em que temos a certeza que Deus existe. O meu cão corria sem regras pelo areal extenso da praia. E como quem não conhece a palavra "inoportuno", tropeçou nas pernas delicadas dela. Demasiado delicadas. Ela caiu, eu gritei e ele correu em direcção a ela. Foi uma corrida carregada de amor. Não estou a falar de amor romântico. Era antes o amor de quem cuida porque sabe que no cuidar está a luz do terno abraço. " Desculpe...está tudo bem consigo?", balbuciei sem hesitação. "Sim", respondeu ela já nos braços dele. Lembro-me de na altura os invejar. A fortuna do amor é mais rara do que a fortuna do poker. E eu tinha azar nas duas. " É cachorro ainda, mal sabe ele o que faz. Desculpem o incomodo". Depois almoçámos os 3, ou 4 se o cachorro contar como ser pensante, e ficámos a conversa horas sem fim. " Tenha casa pertinho. Já está a ficar tarde para se porem a caminho de Lisboa. Se quiserem podem dormir aqui. Garanto-vos que ele vai ficar preso, sem a mínima hipótese de pensar sequer em belas pernas femininas". Rimo-nos e entrámos no meu carro.

Existem minutos, tempos do tempo, que parecem ser feitos para nos lembrarem que nada acontece por acaso. Nesta viagem de carro pareceu-me que os conhecia desde sempre. Ela porque tinha os mesmos valores que eu. E ele porque insistia em acreditar que a vida é uma tremenda galhofa. Eu era uma soma deles os dois. E se aos dois subtrair-mos a ideia de eternidade, lá estava eu.


A minha história é longa, mas curta se a uma conclusão quisermos chegar. Neptuno norteava a minha vida, e neste domínio a ideia predominante era a de amor Universal.
Foto by Carlos Gila

sexta-feira, 9 de julho de 2010


Nós, uma comunidade de humanoides com pouco nexo mas com uma ambição de sentido, imaginamos que um dia iremos governar o mundo!! Nunva ouvi afirmação mais utópica!!!

Primeiro: quem somos nós para acharmos que um dia iremos ditar as regras deste mundo?? E mais: quem é o mundo que nos permite viver nele como se donos da verdade fossemos? ... uma dúvida de cada vez!!

O mundo é só um conjunto de átomos, quimicas incessantes e possibilidades infinitas que nos perturbam a alma e sobre o qual pouco mais temos a dizer...nós somos exactamente o mesmo, acrescentando aos átomos uma necessidade de sermos mais e mais e de acharmos que o mundo orbita à volta do nosso umbigo! Fernando Pessoa diria: "Deixa passar o vento, sem lhe perguntar nada. Seu sentido é apenas ser o vento que passa." Acrescentaria: " sê quem és, sem te perguntares quem és! Sê apenas o Ser que respira!".

Trata-se de uma dança, onde cada um troca os passos que conhece pelos tropeços que farão dele apenas "o vento que passa".

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Parabéns Sofi


Quando o tempo perde as horas,
aproximo-me de ti com a sensação de que o ponteiro do relógio deixou de fazer
...tic-tac...

Aproximo-me da tua luz de coração aberto,
liberta do medo de falhar
...faltar...

Tens asas feitas de penas coloridas,
penas de algodão
...doce...

E não quero que adormeças.
Quero-te assim desperta.
Apaixonada
Corajosa
Obstinada
Rebelde
Doce
Aventureira
Destemida
Atenta

O despertador toca, mas o momento pede
...contemplação...
...emoção...
...coração...

Onde nos conhecemos nós?
Aqui não foi.
Aqui é que não foi porque os anjos não são de cá,
e tu sabes voar!

Voa, voa pena voa.
Dança e voa,
sonha, voa.

Ai como gosto de ti...
Do teu saber Ser,
como ninguém sabe Ser.
É isso que em ti amo.
O Ser que és antes de fazer.

Mas pratica o verbo Ser,
conjuga a tua alma comigo.
Eu Sou,
Tu És,
Nós Somos,
na eternidade marcada pelo principio do Verbo,
Revejo, vejo, prevejo .

Das tuas palavras, construo as minhas convicções.
Ai, como o meu coração fica quentinho perto de ti.

Perto, pertinho, abraçada a ti.
Fazes-me cócegas com o teu algodão doce.
Soltam-se gargalhadas.
Olho para ti e silencio
.
.
.
.
.
Olha para ti e silencia
.
.
.
.
Do Budismo se fez o sufismo,
e o surfista surfa sofregamente,
a onda que vem e que não controla,
aceita-a apenas,
no equilibrio fluido em cima de uma frágil prancha.

E tu meu anjo?
Que ondas irás surfar inspirada no sufismo do Budismo,
que dita o Dharma na lição do Karma?

Sorte a minha ter-te na roda do samsara,
na barriga do Buda ditoso
que ditou o nosso encontro.

É de pessoas como tu que este Planeta precisa.
E de surfistas também,
daqueles que entram no mar
só para estarem mais perto do Sol
quando ele se poe.

Supoe que a borboleta que poisa no teu ombro,
quer aprender contigo?
Ela toca-te ao de leve,
como que a querer apenas fundir-se na tua luz.
Metamorfose alquimica!
A borboleta violeta a vestir-se com o teu arco-iris,
a dar-te as boas vindas.

"Bem-vinda ao planeta Maya,
onde a ilusão da visão nos afasta da certeza subtil do coração.
Persiste,
acredita,
ama,
abraça,
sonha.

Sonha os sonhos que a Vida tem para ti."

Abraço-me à emoção de ter aqui tão perto.
Como é bom ter-te nesta viagem comigo.
Obrigada,
Obrigada,
anjo de penas doces, alma colorida.
Que os teus olhos continuem a ser a luz,
luz ao fundo do túnel.
As estrelas que lá do céu nos pedem que olhemos
para CIMA,
ALÉM,
mais ALÉM.

Aqui é o teu lugar,
e não sendo a tua verdadeira casa,
é um lar emprestado pela Borboleta violeta
para que lhe possas ensinar a voar.

Muitos parabéns meu anjo, plena de singularidades humanas, com asas de borboleta, penas de algodão doce.

Amo-te minha querida Sofia, minha prima do coração :)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Querida mãe...


Procuro por mim um pouco mais todos os dias. Quero ver-me crescer fiel a mim própria, segura de que as minhas raizes têm o poder de me fazer voar. E de que as minhas asas não me deixarão perder o chão. Dá-me um gozo tremendo seguir o meu norte, mesmo quando à minha volta gritam direcções que não me pertencem.

Hoje vivo um misto de emoções. Feliz porque me observo mais sólida, menos frágil às criticas, mais consciente do caminho que vou trilhando. Triste porque ainda observo na minha mãe comportamentos que deixam o meu coração desconfortável.

Preocupa-se porque não como carne, mas nunca a ouvi perguntar a razão da minha decisão. Diz que sou louca, mas nunca a ouvi dizer que me respeita tal qual eu sou e que me vai amar independentemente das minhas decisões "insanas". Trata-me por Vera, Verinha, Verocas, Amor...mas saberá a minha mãe quem eu sou???

Diz que gostava de me ver num emprego estável, a viver numa boa casa, que não fizesse tatuagens...mas saberá ela quais são os meus sonhos???

Pergunta-me se ganho muito no meu novo emprego....mas o que eu gostava mesmo era de a ouvir perguntar se sou feliz no que faço...

Quando era mais pequena, ensinou-me a andar, a falar, a ser bem educada...mas não me lembro de algum dia me ter ensinado a sonhar... E, apesar de tudo, tenho-lhe uma gratidão profunda. Amo-a mais do que qualquer coisa neste mundo e tenho a certeza que é a melhor mãe do mundo.

A minha mãe é humana e por isso tem todo o direito, diria mesmo dever, de errar. E em cada alvo que não acertou, vejo que deu sempre o seu melhor. Muitas vezes diz-me: "quando fores mãe, vais entender". Quando esse dia chegar , tenho a certeza, vou abracá-la e dizer-lhe: "tinhas razão". Pedir-lhe-ei desculpas por todas as vezes que gritei com ela. Arranjarei uma forma de lhe pedir conselhos.

Em cada falha dela, tentarei falhar um pouco menos. Mas uma coisa não irei esquecer: a forma como ela me abraça quando o mundo desaba à minha volta. E só quero que um dia o meu abraço lhes saiba tão bem quanto o dela sabe a mim. Nesse dia terei aprendido a lição. Amo-te querida mãe.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Agora


Alguém me avisou que as coisas podiam não correr assim tão bem. Mas ainda assim decidi arriscar. Se não fosse agora, corria o risco de ser nunca. E se fosse nunca, não seria feliz.

Caminho com um passo esvoaçante, seguro e neutro na forma. Poucos sabem a que vou e evito sequer falar. É chegado o momento de pousar as malas e descansar, aguardar na estação à hora que não está marcada.

Ah, só Deus sabe onde vou e como vou. Eu só sei que desta vez não vou ficar parada à espera que outro alguém conduza o meu destino. Eu vou, mas só Ele sabe quando.
Foto Carlos Gila