terça-feira, 30 de setembro de 2008

Para sempre


Digo-lhe o que nunca tive coragem de dizer. Reproduzo a fonética de cada palavra que sonhei a noite passada e encarno uma personagem corajosa, articulada e segura. "Correu bem", penso. "Muito mais fácil do que pensava. Tenho de arriscar mais vezes".

Quando chego a casa preparo uma chávena de chá, apanho as cartas que estão no chão e dou uma vista de olhos pela correspondência. "...aqui continua a chover. Aliás, desde que cheguei só vi o sol um dia. É bom, assim escuso de sentir o peso de estar em Amesterdão em trabalho e de mal poder passear pela cidade. Ias gostar disto. Prometo voltar contigo no Verão. Amo-te". Ligo a aparelhagem, ponho a música certa para reler as palavras dele vezes sem conta e chorar com um sorriso nos lábios. O computador continua avariado e não tenho paciência para entrar num cyber-café. "É bom alimentar as saudades", segredo-lhe eu ao ouvido. "Amo-o mais do que ele possa imaginar". E volto a sorrir.

Ela ouve-me tranquilamente e aceita-me com todas as fragilidades, medos, inseguranças, desesperos e ataques de ansiedade que possam aparecer pelo caminho. Peço-lhe que me abrace com força e me ame mesmo quando eu não acreditar em mim, mesmo quando ficar sozinha e tiver de aprender a amar-me mais do que qualquer outra coisa. "Amo-te incondicionalmente. Sou a tua eterna companheira. Só eu e tu. Só nós no final da tua história".

"...tenho a certeza que vou gostar muito de conhecer Amesterdão...podemos ficar na casa da Andreia e do Pedro, eles mudam-se para lá em Maio. Fazes falta aqui! Esta casa é grande demais só para mim, o armário é que continua a ser pequeno :) Quando voltares acertamos detalhes, sendo que não vou ceder o espaço que já adoptei como meu. Ok, cedo os cabides! Amo-te, volta depressa. P.S - Traz todo o queijo que conseguires".

“...sei que entendes a decisão que tomei. Mais do que entender, sei que me apoias. Preciso deste tempo para estar com ela, comigo e aprender a viver sem vícios emocionais. Prometo tentar cumprir a promessa de conhecer Amesterdão contigo e estar na Holanda em Junho. Vou sem data de regresso e sem destino marcado. Vai ser difícil mantermos contacto, mas ambos sabemos que não é isso que nos separa. Tu estás sempre aqui e eu farei por estar sempre por perto. Não te esqueças de alimentar a Kika e de a ires buscar à casa dos meus pais. Eles sabem de tudo e não te vão fazer perguntas. Amo-te”.

Encontro-me só com ela, e durante 3 meses só ela me ouve. A ausência de ruídos faz com que a sua presença seja tudo o que tenho neste momento. Ela e eu num bailado de fantasmas e anjos. Centro-me na luz que vem dela. “Esta é a minha história e, no final, quero chegar a casa contigo. Amo-te. Amo-me”.

Sem comentários: