quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O arrependimento


Perdi-te no dia em que disseste não saberes se era eu. Fiquei sem rumo no instante em que da tua boca saíram palavras confusas e me deixaste submersa em pensamentos pouco claros e todos eles difusos. Estava decidida a por um ponto final nos mais de três anos de relacionamento. Como pude deixar que me enganasses assim? Como não questionei todos os conceitos e não coloquei a hipótese de que também podia acontecer comigo? Sabes que te amei e que ainda te amo. Pior, sabes que continuo a ter a certeza que só contigo é possível? Naquele dia fingi ser forte e nem uma lágrima me viste, mas a verdade é que desejei morrer no instante que foste. Continuo a não encontrar um sentido para esta vida que sente falta de ti. Não me lembro da última vez que vi a luz do dia e nem penso que comerei hoje ao almoço. Há muito que não sei o que é estar com a família, fazer um jantar com os amigos. Todos pensam que enlouqueci e a verdade é que deixaram de acreditar em mim. Nas primeiras semanas eram telefonemas diários, pedidos para regressar, visitas constantes. Para todas elas a mesma resposta, o silêncio. Compreendo que estejam fartos de ver que não reajo enquanto vagueias por lugares desconhecidos. Já pensei que o melhor era procurar por ti. Por enquanto vou ficando por aqui. Quem sabe entrarás por aquela porta e digas que sou o amor da tua vida, que perdoas os meus erros e que todas as promessas de amor eterno vão ser agora cumpridas.

Hoje aceitei receber a visita da minha mãe. Ficou comigo o tempo suficiente para perceber que ao longo destes dois últimos anos nada mudou. Chora sempre que me vê. Lamenta-se por não compreender este inferno em que vivo e pede-me sempre que lute. Ela tem o peso de uma folha de papel na minha vida, como todos eles, como o mundo. Hoje veio carregada de comida. Bolos de chocolate, iogurte, frutas. Disse-lhe que fosse entregar tudo a uma instituição de caridade, não vou conseguir tocar em nada. Não quero ter que estar preocupada com a preocupação dos outros por mim. Pode roçar o limiar da crueldade humana, mas a verdade é que me estou borrifando para todos. Já pedi que fingissem que morri, a verdade é que não está assim tão longe da realidade. Miguel, porque é que tinhas que estragar tudo? Foi em ti que depositei todos os sonhos de um amor verdadeiro e dói saber que não vou a tempo de resgatá-los. Não há dia que não marque o teu número de telemóvel na tentativa de ouvir a tua voz. Por onde andas que não te sinto?