sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Um novo dia


Acordei cedo como é hábito em Junho. Já não consigo sair da cama sem antes agradecer o facto de estar viva, sem que antes permaneça quieta numa profunda inspiração e repita pausadamente “este é o primeiro dia da minha vida. Que cor tem o céu? O que são pássaros? A que sabe uma maça? O que se sente quando se faz amor? O que é um abraço?”. Rodeio-me de espanto e sem tentar sequer responder ás perguntas, passo as mãos pelo rosto como se fosse a primeira vez que o estivesse a fazer. Entrego-me à descoberta do tacto, ao mesmo tempo que vagueio pela visão turva do despertar matinal. Esfrego os olhos preparando-os para receber a luz do dia e brinco com as ramelas que tiro do olho direito. Gosto deste gesto, respeito-o como se fosse um ritual, como se elas fossem a placenta da qual me livro para poder ver o mundo com os meus próprios olhos. Depois é sair debaixo dos lençóis e experimentar a audição. Junto ao espreguiçar um audacioso bocejo e um sonoro “BOM DIA. AQUI ESTOU EU ENTREGUE AO TEU DESIGNÍO E A NASCER PARA UM NOVO MUNDO”. Finjo esquecer-me de quem sou e, como se fosse um balão vazio, encho-me apenas de oxigénio. Leve, pronta a ir onde o vento me levar.



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